JULIO PUJOL – Opinião: Pela paz civil

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JULIO PUJOL

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Professor de História e consultor político

Platão, há mais de 2300 anos, no seu ‘A República’ afirmava que quando um grego fazia guerra contra outro grego era a Grécia quem estava doente. E perdia.

Para o filósofo o fim último da política era a harmonia social, que ao final era arte, estética.

E os gregos deveriam ser os responsáveis pela Grécia (por sua terra, sua cultura, por seu povo, por seus valores).

Na semana passada, neste espaço, publiquei um Manifesto recém lançado pelo Movimento Reage Brasil com o título de “Pela Vida, Pela Paz Civil, Pelos Empregos”.

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O Manifesto foi assinado por mim e por um grupo de profissionais, empresários e lideranças sociais. E é apoiado por outros tantos.

No Manifesto propomos analisar a situação brasileira atual com um olhar fora da já tradicional adversariedade, na qual se assinala naquele que pensa e age diferente de nós um inimigo.

E sendo um inimigo (e errado) o destituímos de valor, inclusive o valor humano. Diagnosticamos que nosso país tem perdido muito nos últimos anos por esse tipo de pensamento e comportamento.

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O Manifesto propõe, que devemos fazer um esforço de unidade nacional, para além das diferenças e ideologias, neste momento difícil para o país, para absolutamente salvar vidas (evitar perda de vidas que seriam evitáveis), e preservar empresas, empregos, em suma, trabalho e sustento para o brasileiro.

O Manifesto sofre de três maneiras: pode ser considerado de direita, pela esquerda, pois não ataca o pensamento direitista e não ataca o governo federal nem o presidente.

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Pode ser considerado de esquerda, pela direita, pois não ataca o pensamento esquerdista, nem o ex-presidente, nem a ex-president(a).

E pode ser considerado ingênuo por todos, por considerar uma hipótese de unidade.

Lembrando que esses conceitos ‘esquerda e direita” já estavam sendo sepultados quando instantaneamente, parece que, do nada, ressurgiram.

Não acreditamos ingenuamente que todos os atores políticos irão, daqui para a frente, abrir mão de seus pensamentos, ideologias e interesses em nome de uma harmonia insossa.

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Pelo contrário, o que fizemos foi uma sinalização para uma possibilidade futura. Descortinamos um horizonte à ser perseguido, buscado.

Quando escolhemos, enquanto país, a aventura da democracia, escolhemos a unidade na diferença, escolhemos o enfrentamento de temas e situações complexas, escolhemos conviver com o outro brasileiro, e escolhemos respeitar um conjunto de regras e situações (o tal Estado de Direito) que, em última instância garante a todos nós.

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Não há ingenuidade nisso. Não há facilidade nisso. Também não há impossibilidade prévia nisso, ou seja, escolhemos dialogar, e todas as hipóteses se descortinam sobre a mesa.

Instituímos nosso parlamento nacional (lugar de fala, de acordo, de composição).

Instituímos nossos 27 parlamentos estaduais e também os instituímos em todos os mais de cinco mil municípios que compõe a União.

Somos um país que acredita no diálogo e na concertação.

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E essa capacidade de dialogar chega à menor unidade da Federação, chega à porta de nossa casa, chega em nossa rua, em nossa associação, em nosso clube, em nossas praças.

A aventura da democracia é desafiadora, mas nesse momento é o melhor instrumento que temos para superar o talvez maior desafio do nosso século e da nossa geração.

Quando apontamos no Manifesto a necessidade de se buscar ‘A Paz Civil’ significava dizer que precisamos evitar um conflito civil, uma ruptura, que pode provocar ainda mais mortes, mais divisão, mais desconfiança e falência entre os brasileiros.

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É hora da política, e dos políticos, assumirem o seu papel de construção da unidade e de preservação da integridade de nosso país.

Vivemos um momento grave. A política em nosso país foi destruída. E com a destruição da política, vivemos à deriva. Uns em conflito com os outros.

Platão não acreditava muito na democracia, apesar de viver no berço dela. Era um aristocrata. Acreditava que os melhores, os mais preparados (aristós) deveriam governar.

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Nossa paz civil está em risco, e o bom observador saberá perceber os sinais como no ‘Ovo da Serpente’: desconfiança e agressividade entre irmãos, desemprego, luto, perda de valores civilizatórios, maus exemplos de alguns governantes, descrença em valores consagrados, divisão e irracionalidade.

De certa forma, agora, precisamos dos nossos melhores, daqueles que conseguem ver, daqueles que conseguem transcender inclusive seus interesses mais imediatos e colocar o Brasil, de fato, como prioridade.

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O Brasil que é a casa de todos nós, e como dizia Mário de Andrade:

Brasil que eu amo porque é o ritmo do meu braço aventuroso,
O gosto dos meus descansos,
O balanço das minhas cantigas amores e danças.
Brasil que eu sou porque é a minha expressão muito engraçada,
Porque é o meu sentimento pachorrento,
Porque é o meu jeito de ganhar dinheiro, de comer e de dormir.”

ANDRADE, Mário de. Poesias Completas. São Paulo: Martins Editora, 1955. p. 157-158

Que o Brasil seja para nós o que um dia a Grécia foi para os gregos: um sentimento, um orgulho, uma responsabilidade.

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